29 de abr. de 2013

Anos 80 - música, motos e mulheres...

Imagina um moleque descabeçado, com cheque especial, conta em banco e cartão crédito?
Aos quinze anos, consegui minha vaga de contínuo no já extinto Banco Bandeirantes.

Eram os anos 80 no Brasil...boa música, cultura new-wave, romantismo pop..os grupos de rock surgiam com muito talento e energia. Não é á toa que no mundo todo e até hoje - os anos 80 - são relembrados e celebrados.

Como esquecer dos shows dos Titãs, Paralamas, Legião Urbana, Lulu Santos, Nenhum de Nós, Ira, Ultraje a Rigor...e muitos  outros que vinham ao Uberlândia Tênis Clube? Era êxtase de música e vida...alegria...



Podíamos voltar pra casa a pé, chutando latas, paquerando as menininhas e fugindo dos cachorros.
Num desses shows, conheci minha primeira namorada.

A Fabrícia é igualzinha á Marisa Monte. Alta, branca, com um olhar doce e um sorriso lindo. Através de uma prima dela que me conhecia, fomos apresentados pelo olhar. A música tocando..e o silêncio entre nós...sem falar nada...

Sim, acredito que o olhar é poderoso e ao longo da vida, tive vários exemplos disso.

A prima dela nos apresentando e os dois hipnotizados, nos olhando e chegando perto, sem falar nada...
Pumba! Foi paixão á primeira vista. Era nossa primeira vez em tudo...tanto pra mim, quanto pra ela.

Saíamos sempre numa turma muito boa...muitos amigos juntos...eu já tinha minha grana pra pagar nossa conta. Isso era o máximo pra mim e pra ela. Me viam como um moleque trabalhador e responsável.


Sim, sou mais trabalhador que responsável, eu sei.

Meus primeiros cunhados eram culturais também...um irmão dela era hippie, o outro era dono de um bar e sua irmã mais velha uma figuraça...

Ás vezes, fazíamos umas festinhas na casa dela, e eram sábados á noite de muita música e diversão.
Foi uma época de curtição sadia, de amor puro...com trilha sonora de primeira qualidade.

Tempo de minha primeira moto...meu tio Paulinho que descolou pra mim a CG125..vermelha...primeira vez que vi...pensei...montei numa Ferrari!!!

Assim, também conheci o valor do vento no rosto...da liberdade...do sol na cara...passeios pelas cachoeiras ao redor da cidade...

Até hoje penso que - pela pureza e companheirismo - deveria ter me casado com a Fabrícia...mas minha ânsia de viver e viajar pelo mundo foi maior.

Suas primas me contaram que ás vezes, elas conversam sobre mim e sobre essa época e que até hoje ela lembra de mim com carinho. A recíproca é verdadeira.

A Fabrícia se casou com o próximo namorado, e dia desses, eu a vi no circo com seu filho, loirinho também...sei que está casada com ele desde então.

Na fila da saída do circo, nos notamos, nos olhamos em silêncio e respeito, e percebi que em nossas cabeças - e ao mesmo tempo - se passaram várias lembranças e imagens daquela época...

Ficamos alguns segundos nos olhando...
Trocamos um leve sorriso ...e nos perdemos na multidão.

....

19 de set. de 2011

Pré-Adolescência também agitada.

Tudo novo. Quase embarco numa excursão pro céu, de novo. Viagem de trem pra nunca mais esquecer.

As coisas estavam indo bem nessa nova fase de adaptação com minha mãe. Eu não me lembrava dela, eu só tinha três anos e dizem que até essa idade, as crianças vivem em alfa. Eu não me lembro da separação em si. Reza a lenda que minha mãe nos colocou pra dormir logo depois do almoço, e saiu. Imagina uma mulher deixar quatro filhos e ir embora. Penso que foi bem complicado pra ela. Bom, mas aqui estamos todos de novo, e nunca ficamos sabendo o porque de minha mãe ter deixado meu pai dessa forma. Devia ter suas razões. Todo mundo evita, ninguém vai direto ao assunto. Acho que o que veio depois foi melhor. Meu padrasto é trabalhador e responsável. Aguenta o tranco legal. Uma barra pesada, mas  ele está sempre em linha reta. Admiro essas pessoas. Que conseguem manter uma constância em suas vidas e durante anos a fio vão colocando um tijolinho por vez. Constroem coisas incríveis. E parecem estar sempre em paz.
Minha mãe tem uma energia difícil de descrever. É costureira profissional e pintora amadora. Mas direto aparece com umas ocupações interessantes nessas áreas artísticas. Coordena e está sempre envolvida com atividades espíritas. Principalmente voltadas ás mulheres. Gosta mesmo. Ali ela se sente realizada, livre e feliz. Vaidosa, procura estar sempre bonita e bem arrumada, pra destacar os olhos azuis e o rosto bonito, de pele muito branca. Vamos crescendo, no novo bairro, que também vai crescendo junto com a gente, meus irmãos já trabalhando e todos estudando. Ganho uma Monareta verde. Que bicibleta! Rodava a cidade inteira, olhando, observando as coisas e guardando os caminhos. Moleque livre, fazendo molecagem. Foi mais ou menos nessa época que faço uma das viagens mais marcantes, até hoje. Minha tia Maria, era alta, forte, de ossos pesados e muito bonita e simpática. Típica nona italiana mesmo. Pegamos o trem bem de manhãzinha.




É engraçado o quanto é agradável o clima numa estação de trem – ao menos nas estações daquela época, ainda tinha-se um romantismo. Algo de especial. Eram poucas linhas entre as cidades do interior e partimos rumo a Campinas. Íamos passar uns 20 dias com a Tia Doca. Aquelas composições antigas, de madeira, eram incrivelmente modernas. Era um vintage-moderno. Era velho, mas era moderno. E o  vagão restaurante então. Almoçamos observando a paisagem pela janela, passando lentamente pelos olhos, e o vento tranqüilo soprando. Dizem que minha outra tia beata Helena, teve um noivo que era dono de um vagão-restaurante. E depois que se romperam, ela nunca se casou. Ele sim. Ela não. Que viagem! Imagina pra um moleque, poder correr entre os vagões, conversar a vontade com todos, e ainda conhecer toda a região, desde o interior de minas até quase São Paulo, da janela de um trem? Não entendo porque nenhum milionário careta ainda não pensou em reativar essas linhas ferroviárias turísticas no Brasil.
Dessa mesma época, vem outro episódio que merece ser relatado. Sempre íamos pras fazendas dos primos da dona Onésia. Guarde esse nome, lembra? E dessa vez estávamos todos lá novamente, curtindo aqueles dias, onde podíamos ficar conversando o dia todo, correndo, nadando e comendo de tudo. Sem contar que podia-se andar a cavalo o dia todo, se quisesse. Nas férias, todos os dias eram de sol. E num desses dias, me lembro de acordar animado, e já pular da cama meio agitado. E naqueles dias os moleques já pegavam a caneca e iam pegar o leite quente direto na fonte. Era um café da manhã daqueles. Pão de queijo caseiro, bolo caseiro e quitute de fazenda. Nesse dia, saímos a pé, andando pela fazenda. A tropa toda, caminhando pelos trieiros, passando por riachos e muitos, muitos pés de fruta. Até hoje não como uma fruta chamada carambola. Sinto o cheiro de longe. Lembro que paramos, e colhendo as mais maduras, íamos comendo ali mesmo. E moleque da cidade na fazenda, parece um moleque da fazenda na cidade. Não sabe muito bem a medida das coisas. Depois, a vítima foi uma goiabeira. Depois uma jabuticabeira.
Bom, ao voltarmos pra sede da fazenda, os homens estavam preparando um porco inteiro pro almoço. E eles tinham uma técnica de colocar uns pedaços de pele de porco para curtir ao sol, encharcadas no sal grosso. Tipo pururuca caseira.



Cortavam e sapecavam a pele do porco no fogão a lenha e depois deixavam lá pra curtir. E  ali  começava uma história interessante. Lembro que o sabor era forte, mas saboroso. Os moleques da fazenda me avisaram que era forte e que normalmente os homens comiam muito isso durante as pescarias. Dava muita energia. Foi apenas um pedaço, mas o suficiente pra contribuir para o que estava por vir.
Pra não bastar a equação gastronômica explosiva que eu estava montando, antes do almoço ainda inventamos de tomar caldo de cana. Pronto, o gatilho tinha sido disparado! E me lembro do enjôo forte e uma tontura estranha, para um moleque de 12 anos. Passei pelo meu pai, sentado na mesa da cozinha e segundo ele soltei uma frase que causou estranhamento instantâneo. – Pai, vou deitar um pouco. O quê? Logo antes do almoço? Tem algo de errado com o pirralho. Depois da imagem do meu pai sentado, não me lembro de mais nada. Todos contam que eu fui ficando roxo, começando pelas mãos. E imóvel, não respondia mais. A fazenda ficava a uns 15 kilômetros da cidade do Prata. Tinha chovido e as estradas estavam complicadas. E segundo minha madrasta – Dona Onésia – se me levassem a cavalo eu não chegava nem até o meio do caminho. Nessa altura, minha avó já tinha tentado todos os chás que ela conhecia e nada. Sem reação. A Dona Maroca também fez umas misturas caseiras, sem resultado.
Aqui entra uma das primeiras peripécias da Dona Onésia. Ela vai salvar minha vida. Literalmente. Segundo ela, a avó dela, tinha lhe ensinado um chá que cura as chamadas – na época – congestões estomacais. No mineirês : “Congestã”.
Por que mineiro não diz boa tarde. Ele diz “tardi”. E bom-dia, “dia”. Tinha-se notícia de muitas congestões estomacais naquela época. Era meio que comum. Acontecia. Só que a minha estava ficando séria. Quando a minha boca começou a ficar roxa, eles desesperaram. A Dona Onésia chamou o Riquinho(Carlos Henrique) de lado:  - Toma esse copo d´agua inteiro e agora! Enérgica. O moleque não entendeu nada. – Toma outro. – E outro. Ela já separou uma cassarola de alumínio, foi até o quintal e arrancou uns brotos de mamão. Lavou, e começou a fervê-los em água quente.
Depois de alguns minutos, ela adicionou ao chá a urina do filho dela. Pumba! Estava feita a poção mágica da vida eterna do moleque burro que misturou o que não podia! Foi colocando aquela mistura na minha boca, usando uma colher de sopa. Bem aos poucos. E aos poucos também, fui voltando á vida. O aspecto vivo-morto foi desaparecendo, já comecei a querer tossir e a mexer na cama. Minha avó disse que quando eu vomitei aquele novelo preto de porcarias estomacais, do tamanho de um limão, todos ficaram espantados. Foram aproximadamente umas 24 horas nesse processo todo. E as minhas primeiras frases, quando estava de volta, foram : - Pai, tô com fome!


Desse episódio eu me lembro apenas de uma luz branca, que ás vezes eu via, durante essas horas de “congestã”. E quando já estava melhorando, eu ouvia as vozes do pessoal ao redor, inclusive a do meu pai, que falava pra caramba, sem parar. Ele sempre fala pra caramba, sem parar. Quanto á luz, era como se fosse um túnel grande, em que uma pessoa pode entrar andando. De novo, parece que tocavam música clássica. Uma paz, uma serenidade sem precedentes. Não tive medo, e nem dá pra ter. Acho que em determinadas situações em que percebemos que não se tem muita escolha, vem um relaxamento natural.
Essa minha tia Maria – da viagem de trem – morreu de câncer. Nos últimos dias dela, ela estava toda roxa, com os olhos amarelados e muito doente. Mas parecia que estava em paz. Conformada e tranqüila. Acho que todos nós só passamos por aquilo que podemos suportar.
E nada nessa vida, nem a morte é algo tão complicado assim. Todos passam. Todos suportam e todos continuam sempre em frente, mais do que nunca, vivos.

12 de set. de 2011

Infância Agitada

Meus pais se separam. Meu pai sempre no meio da encrenca. Anos dourados morando com a avó italiana, tios incríveis e infância pra lá de proveitosa. 1° Quase-Morte.


A lembrança mais marcante que tenho de minha infância é a do meu pai no portão nos entregando pra minha mãe. Depois da separação deles, fomos morar com minha avó. Como ele poderia ter nos tirado daquela magnífica casa, onde além de minha avó e meu avô morávamos nós quatro e mais cinco tias e um tio? Ali era um paraíso na cidade. Tinha um pequeno campo de futebol no fundo, galinheiro, um pomar gigantesco, espaço pra correr e se esfolar a vontade. Sabe aquele lance meio Sitio do Picapau Amarelo? Sem exageros, e guardadas as proporções de fantasia da obra do Monteiro Lobato, a casa de minha avó não perdia por nada. Certa vez, no meio de uma chuva tropical, vi meus irmãos construindo paredes de barro e tijolos. Tipo cabaninha mesmo. No meio da chuva, das árvores e daquele imenso quintal.
Minha avó era uma figura maternal muito importante para todos ali. Era o ponto de equilíbrio, o centro de gravidade e referência para aquele bando de descendentes de italianos abrasileirados. De vez em quando via-se um prato voando durante o jantar. Era um diálogo de irmãos acontecendo. Normal. O importante era tudo que acontecia ali. Era tudo ao mesmo tempo agora. Meu tio Paulinho, apaixonado por velocidade, motos e carros, era rodeado de amigos motoqueiros, sempre desmontando ou montando motos, jipes, caminhonetes e fuscas. Ele sempre namorava umas gatas anos 80. Minhas 3 tias que não se casaram(beatas mesmo), sempre cuidando de tudo, das contas, da ordem financeira da casa. Sei de algumas histórias de ex-namorados e ex-noivos, mas esse assunto fica pra mais tarde. Meu avô sempre calado e sério, sempre por ali, observando e ás vezes colocando ordem na casa.



E assim minha avó me levava todos os dias pra escola, que era a três quadras dali. Dias desses, depois da minha estada na Europa, estava passando em frente a escola e resolvi parar e entrar. Até o cheiro ainda era o mesmo. Parecia que eu ia me deparar com um amigo daquela época. Recomendo uma visita a sua escola primária ou ginasial. Faz um bem danado pra alma. É como voltar no tempo – acho essa expressão piegas – e ali parece que o tempo parou. Sabe daqueles efeitos especiais onde o cara vê o passado bem na sua frente. Experimente e é de graça. Deu onda.
De vez em quando meu pai se envolvia em confusões durante os jogos do Uberlândia Esporte no Juca Ribeiro. O estádio ficava em frente a nossa casa e saía a italianada em caravana pra tirar meu pai do olho do furacão. Era só barulho, se viam os braços agitados e era claro que ali ninguém queria realmente partir pra porrada. Era até mesmo meio teatral, engraçado. E as nonas chorando – Vem Luizinho, sai daí Luizinho!!! – pastelão italiano no interior de Minas.

Quando entramos na nova casa, meu padrasto veio nos receber, cumprimentando um a um. Minha mãe conta que naquela casa aconteciam alguns efeitos de paranormalidade. Tipo um abacate atravessar o telhado da área e se esborrachar no chão e rolos de linha correndo pela sala. Eu mesmo nunca presenciei nada. Ainda bem.

Foi um período rápido antes de mudarmos para a nova casa. Naquela época, mudamos para o fim do mundo. Num dia de chuva, descarregando o caminhão de móveis e na primeira noite ainda andando sobre tábuas da construção. O nosso bairro era o último da cidade. Tudo bem que hoje é quase centro, mas naquele tempo foi um tormento. Mas com o passar do tempo, o bairro cresceu muito e se tornou um lugar muito agradável para qualquer criança viver, brincar e crescer.

O melhor era quando meu pai visitar. Quando a perua Kombi aparecia na esquina, era sinônimo de coisa boa. Meu pai nunca trazia problemas nem chateações. Sempre trazia novidades com legumes, ou vice-versa. E assim fui crescendo, jogando pedra em passarinho, brigando com os moleques da rua debaixo, estourando a cabeça do dedão do pé nos campinhos de futebol e esfolando a cara com tombos de bicicleta.
Nas férias meu pai sempre levava a gente pra fazenda dos primos da sua esposa, a Dona Onésia. Guarde esse nome. Minha madrasta é a encarnação do anjo da guarda. Gentil, prestativa e de uma paciência sem fim. Sem contar nas técnicas e tiradas de humor que só ela tem. Algumas noites, ficávamos com a mandíbula doendo de rir das piadas que ela e o meu pai contavam. Stand-up de alta qualidade na família.
                                                         

As horas na estrada dessas viagens nas férias já se valiam por si. Quando, já crescido, descobri que a cidade do Prata ficava a apenas 1hora e meia da nossa, não acreditei. Pois naquela época, parecia que participávamos do Paris-Dakar. A Kombi atolava, rodava no barro – a estrada era de terra – aquecia o motor, arriava a bateria e tudo mais que pudesse contribuir para a aventura. Uma vez a ponte sobre um rio volumoso tinha sido levada pelas chuvas. Só sobraram os pilares de sustentação. Café pequeno para o aventureiro Sr. Luiz. Descemos todos, descarregamos algumas coisas e meu pai atravessou por sobre o rio apenas naqueles sustentos de concreto, quase da espessura das rodas da perua. Indiana Jones total. Chegamos na fazenda com o dia raiando. Que visão! Que astral. O Sr.Leôncio (era o nome dele de verdade), era atencioso e nos recebia muito bem. Sua esposa Dona Maroca, uma chef de cozinha sem igual. E assim, juntávamos as turmas. Os moleques da cidade e os moleques da fazenda, pois os filhos do casal eram mais ou menos da nossa idade.
Eram dias de diversão pura e livre. Comida boa, sol quente e liberdade pra correr, brincar, andar a cavalo, nadar nos córregos das redondezas, engrossar a sola do pé de andar descalço, pisar na bosta de vaca e coisas que são possíveis apenas numa fazenda rústica. Todo dia íamos nadar num riacho que ficava a alguns metros da sede da fazenda. Era sempre depois do café da manhã.

Ás vezes descia um dilúvio tropical durante a noite, mas de manhã o céu sempre estava limpo e o sol fervilhando. E os mais novos, eu, o Riquinho e o Rosmani sempre vínhamos correndo na frente e de um barranco mesmo pulávamos dentro do córrego. Numa dessas ocasiões de chuva na noite anterior, o córrego tinha virado um rio. E nós – comment d´habitude – chegamos no barranco e pulamos direto. Tipo assim: o Irruh! Vamos nessa... foi substituído por : Putz! Fudeu! O riacho estava levando a gente.
Os três pirralhos estavam sendo engolidos pelas águas.  Eu mesmo só tenho uma lembrança que me acompanha sempre. Eu via os raios de sol entrando pela água, e as raízes das plantas passando por mim, num balé das algas. Parecia até que tocava música clássica. E eu ali, inerte, tipo um machado sem cabo, flutuando e indo embora, num silêncio sereno. Os irmãos mais velhos, que nos tiraram, dizem que viam só um restinho da minha cabeleira branca, enquanto o Riquinho pedia socorro. Eles contam que ele tirava a cabeça da água e gritava: - Socor..... e afundava. Voltava e dizia : ...ro. Não posso garantir se é história ou se eles fizeram piada do episódio.
                                                       
Nessa hora eu estava curtindo o mundo das águas – Monteiro Lobato de novo. O filho do dono da fazenda também estava enrascado no riacho. Sorte que eles vinham bem atrás e livraram nossa pele. Eu fui salvo e levado para o outro lado da margem, o que significava que teria que voltar. Imagina o processo. Dos momentos embaixo d´agua, eu me lembro dos raios luminosos do sol, cortando a água, formando uns prismas de cores únicas, diferentes. Foi a primeira vez que eu comecei a pensar em algo que li não me lembro onde.
Dizem que na hora da morte, o cara é distraído por uma luz ou som, que desvia a atenção dele, e assim ele passa pro lado de lá sem perceber ou sofrer. Acho que estavam me distraindo e depois prorrogaram minha estada nesse planeta. Vai saber.


8 de set. de 2011

Prefácio

Esses últimos e turbulentos anos, foram primordiais para minha decisão de escrever um e-book, sobre minha vida, minhas impressões de vida, minhas impressões das pessoas e do mundo.

Talvez seja uma forma de exorcisar minhas confusões, minhas paranóias, minha visão romântica do mundo, rever meus erros, saborear os acertos e seguir em frente, com alegria de viver e força para continuar sempre sonhando.

Dizem que ainda não inventaram nenhuma máquina, nenhum computador, nenhum sistema tão complexo como a mente humana. Concordo plenamente, pois a profusão de idéias dentro de uma cabecinha pensante pode ser uma explosão perigosa, prazeirosa e de descoberta infinita, sem limites.

Sérgio Bertolucci
Brasil  / Setembro - 2011.